_ xícara -cheiro-memória _
... chegas no fundo da xícara.
como se estivesse sempre, afagando meus seios, beijando minha face, levantando minha saia.
o cheiro de café passando me adoça, enquanto no chuveiro tua voz cantarola alegrias de quem se prepara para amar, logo daqui agora mesmo. um arrepio no bico do peito anuncia que é já.
a loucura veio de vez mesmo, ó meu Deus!
dou de me achar nos móveis, nas coisas, tocando o encosto da cadeira que um dia compramos para aquele canto-canhoto da sala de estar, apalpando nossas iniciais desbotadas na cambraia ainda vigorosa dos lençóis, no espelho bisotê, resultado de caminhadas impacientes entre um e outro antiquário.
permeio-me... permeio-te, por entre nossos objetos.
nunca entendi bem porque me possuem de tal forma, apenas resigno-me com estas todas insanidades, não sei o mecanismo para impedir.
simplesmente, me invadem!
na invasão trazem misturados, uma paineira centenária lá de Viçosa, o perfume das fraldas alvejadas ventando no quintal, brinquedos esparramados pelo corredor, mamadeiras, o suor da terra esquentada pelo sol de duas horas, onde a grama que plantamos embirrou de não vingar... o cheiro do teu corpo no meu corpo.
tudo ecumenicamente agregado, incensos perfumosos, rezas e chás de minha avó para tirar dor de cólica, mãe salpicando confeitos amorados no bolo de laranja saído do forno, as crianças riscando com rodas de patins os azuis de minhas horas, esta vontade de me encostar no teu peito sem nunca mais ir embora.
minha vida desbordando pelas abas da xícara- cheiros-memória.
ganhei de minha avó, vou dar para meus filhos porque dentro dela mora o nosso rio.
a perenidade dos objetos afrontando minhas finitudes. nos meus dentros, este vazio-chuva, chora-me!
tudo ontem, tudo hoje, tudo agora!
onipotente, esta xícara me revira... esta xícara me devora.
nAnadeabrãomerij
Menina, esta prosa poética é divina...
ResponderExcluirBenza Deus, sua palavra .
Débora-RJ
ESQUECI; OS FILHOS SÃO LINDOS, COMO A MÃE!
ResponderExcluirMaria Zélia Baeta- BH