terça-feira, julho 19, 2011

[a existência nos mira de soslaio/in mistérios dolosos]



_tudo é tão indecifrável como  é  o inventário do silêncio _






de mãos postas um poema clama em contrição, entra nas fissuras do dia
e grava em minhas retinas sombras das  palavras emudecidas
a fugir entre meus dedos
como se pedras, lavro-as
 quem sabe digam o que não sei, confidentes que são da memória

neste mosaico intangível
tudo conduz a lucidez que precede ao caos
as veias do ontem sangro-as ,a pastorar o mastim, para colher respostas

porque hoje, apenas ecos perdidos da escritura gravada no livro d'outrora

da vida, este existir fugaz, bebo os prenúncios de nascituras mortes
as imagens  não patenteadas, como linho volátil se desfazem tal qual folhas secas sob a brisa 

ao vento arisco tudo que foi dito se desfolha:
- palavras sem rumo
-versos sem norte

onde escavar?
onde  doer?
onde descarnar a duvida que fere?
onde saciar este nada saber que me devora?

 pouso   as letras  neste  sopro sem chão
sem trilhas
 sem marcas
 sem margens

tudo é tão indecifrável como  é  o inventário do silêncio 
 a embalar as sobras do que  um dia - ternuras sólidas [?]
 impondo aos meus olhos o que não tem raízes
o que a vida impiedosamente degola

um clamor  descalço pisa  meus escombros
 indiferente a esta dor
sinfonia  de prantos
talvez,
se pudesse calar todas as dúvidas

mas,
cabe ouvir o vazio
mastigar as páginas  inócuas
recolher a mudez-rubra que tange incessante
gota a gota  
hora por hora 

cabe ouvir a epifania do silêncio, onde mora o segredo do graal
-cabe! 


[cabe  sufocar a lágrima  deste  poema e estender seu coração ao sol.]
anadeabrãomerij

2 comentários:

  1. Merij. este poema me trouxe lágrimas, vou estender mue coração no sol.
    Bjs, Cida

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  2. Um poema bem construído, forte,imagético no exato tamanho.
    Continuo a admirar sua poesia, como das melhores poetas atuais.
    Abs

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Obrigada!
nanamerij