_ EXÉQUIAS _
o dia acorda assustado, nas portas, nas paredes, nas janelas.
das palavras engaioladas sussurros de lembranças, nas linhas de partituras roxo-amarelas das flores entristecidas.
para visitação dos corpos que já não mais existem, procissões de devotos seguem alamedas de saudades entre acesos círios, entoando hinos em com-passos contritos. e percorrem todas as trilhas margeantes das lapides frias.
assisto a caminhada, mas não sigo.
meus mortos?
estão aqui, no sofá da sala, no candelabro de cristal, no livro aberto sobre a mesa, na plena exaustão do velho relógio que bate meu olhar desperto madrugadas tantas, nas conversas gravadas pelos quartos, nas fronhas, nos lençóis de linho do meu velho enxoval.
meus mortos?
retidos na moldura dos retratos, nas cinzas do relicário, no cheiro de café a perfumar manhãs mais que a vida, na gaiola do canário belga que perpetua suas cantorias, porque sabe, tem os dias contados e conhece de deus:- os artifícios!
meus mortos?
na água dos jarros que repete as sonatas das fontes, na chuva banhando as serras, abismos, e precipícios.
na cal, no pau, na pedra, no pó, no ar, no chão.
meus mortos dentro de mim: -por isso mastigo o trigo com o qual o diabo amassou meu pão!
nAnadeabrãomerij
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nanamerij