sábado, outubro 22, 2011

eu que tantas vezes, nem rosno...incontáveis estações nunca desfloro, suplico aprendizados

_ insuportabIdades_




dias existem em que me pego com medo da palavra, a que disse, a des-dita, aquela que direi, a que não sei dizer.é uma coisa clarice nos dentros, é um jeito lispector de resistIR-me.as multidões me apavoram, o mar me sufoca, a janela aberta me assombra." reviro-me em ostra, respingada de limão, é claro."
é na palavra que sofro, sangro em desempatias,bebo doses amargas de pânico.
nas letras desaguo esperanças (retintas demais), beirando ao patético, porque me escrevo em compassos de aguardos.
aguardar o quê?
as horas passando, o tempo envelhec(S)endo-me?

entre rimas e versos espio a vida, seguro nas mãos da solidão doloridamente insuportável, cheia de ausentes-presenças- falantes, dos lugares por onde andei, das pessoas que ganhei, daquelas que perdi, sem nem mesmo saber o como. sem entender sequer se houve um talvez.

talvez, a palavra mais ferina e acre.

talvez...se pudesse viver de novo.
talvez...se pudesse passar a limpo.
talvez...se outras escolhas.

talvez!

advérbio tinhoso e martelante.

vezes, desvento-me nestas páginas velhas, nos vãos das escrituras esmaecidas por descuidos, ou desusos.plasmadas e retidas no palato da alma, travadas na minha mais irrestrita incompetência, por não saber o que fazer delas.

escreViver de palavras pode ser livramento, mas é também amargoso , quando o Verbo revira-se maior que nossa miudeza, editando confundimentos em nossos olhares, rasurando perceberes, macerando claudicantes certezas, replicando infinitos de incertezas.

dor de incerteza é adaga,finca .

fuso afiado na mó do destino, tecido no tear das parcas, que sem aviso prévio azucrinam seus dedos , e cortam o fio da meada, desenovelando as fibras, embaraçando os fios da vida.
o que me adoece mesmo é esta insuportablIdade -estática diante as multipliCidades dos meus sentires, dúbios-fundos-confusos.

meu cão , é sábio, conserva um permanente brilho de alegria no amarelo dos olhos, latidos ternura saltando sobre mim, independente desta persistente fundeza, ele me acolhe sem questionamentos, sem variantes.

como ele, estas delicadas violetas e valentes orquídeas, florando e acontecendo aqui , dentro das normalidades de suas naturezas.

eu que tantas vezes, nem rosno...incontáveis estações nunca desfloro, suplico aprendizados. eles sorriem e me abraçam , entre suas patas e pétalas aquecidamente amorosas.
enrosco-me nestas serenidades.

agonizo por  entre vírgulas e reticências. padeço é de ser gente.
quem sabe um dia, com meu cão , com meu jardim:aprendo-me.

nAnadeabrãomerij

2 comentários:

  1. "quem sabe um dia, com meu cão, com meu jardim,
    aprendo-me"
    "padeço é de ser gente"
    Obrigada, Nana.
    Linda forma de se expressar com o que todos
    nos identificamos.
    E já que citou a Lispector:
    "E se me achar esquisita,
    respeite também.
    até eu fui obrigada a me respeitar."
    (Clarice Lispector)
    "O poeta é um fingidor" - afirmou Pessoa,
    então, continue a fingir "tão completamente" que
    chegue "a sentir que é dor a dor que deveras sente."
    Enquanto isso, nos somamos aos seus sentimentos,
    e seguimos, "fingindo" nossas dores também.
    Que você, poeticamente, maravilhosamente, descreve por nós.
    Beijos,
    parabéns pelo brilhantismo,
    Nana Crivellari

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  2. Quisera ter escrito...quisera!
    Bjs minha querida, Filipa

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Obrigada!
nanamerij