domingo, março 25, 2012

Porque estou em naúseas com tanta imundície neste Governo, recosto-me na poesia......

   _ canção molhada de sal _

        

a palavra corta a tez da paisagem, corta a vida, o tempo

e minhas reminiscências, incisões que olhar bem sabe ler

corta essa dor tão sucessiva , textura das  minhas raízes

! corta-me

        

        ainda assim escrevo:

        nas letras dos prantos e gritos dessas horas

        para doer- me nessa canção molhada no  sal

        para  chover-me pelo pó das velhas estradas

        nesta  partitura cerzida com  fios  da história

        
        

ainda assim escrevo:

para soltá-la aos ventos por céus serenos de  gaivotas

para que  voe  horizontes escondidos entre montanhas

semeando essa dor,essa desesperança,entre os trigais

        

        e rasgo:

        -para esquecê-la

        -para esquecer-me

        

        quem sabe amanhã, quando eu partir ...

        alguém possa reescrevê-la sob a paz de madrigais

                                             [ou ninguém- ou jamais]

        

        nAnamerij

2 comentários:

  1. Belíssimo, Nana.
    A conversão da dor em versos tão pungentes.
    A penetrar-nos a alma, e a fazê-la comungar com as lágrimas-suas, sim, a traduzirem as universais.
    Escrever dessa maneira linda, a modular poesia no país da alma das amarguras. Parabéns!
    "[...]mas até calva da pedra
    sinto-me capaz de arar"
    João Cabral de Melo Neto
    in Morte e Vida Severina
    bjs,
    Eliana Crivellari

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  2. Um poema bem conseguido: espero todos percebam sua beleza.
    LR-RJ

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Obrigada!
nanamerij