_ talvez... _
dias existem em que me pego com medo da palavra, a que disse, a des-dita, aquela que direi, a que não sei dizer. é uma coisa clarice nos dentros, é um jeito lispector de resistIR-me.
as multidões me apavoram, o mar me sufoca, a janela aberta me assombra. “reviro-me em ostra, respingada de limão, é claro." (de Clarice).
desinsofrida, sangro em desgostares, agonizo por desempatias. bebo doses amargas de pânico.
antagonicamente sinto que minha esperança (retinta demais) é tola, quase beirando ao patético, e ao mesmo tempo faço-me em compasso de aguardos.
aguardar o quê?
as horas passando, o tempo envelhecendo-me?
ponho-me a espiar a vida, e seguro nas mãos uma solidão doloridamente insuportável, cheia de ausentes-presenças- falantes, dos lugares por onde andei, das pessoas que ganhei, daquelas que perdi, sem nem mesmo saber o como... sem entender sequer se houve um talvez.
talvez, é a palavra mais ferina e acre.
talvez... se pudesse viver de novo.
talvez... se pudesse passar a limpo.
talvez... se outras escolhas.
talvez!
advérbio tinhoso e martelante.
um tanto-muito, desventado feito páginas velhas, letras esmaecidas por descuidos, ou desusos. misturadas emoções plasmadas e retidas no palato da alma, travadas na minha mais irrestrita incompetência, por não saber o que fazer delas.
escreViver pode ser livramento, mas é também amargoso , quando o Verbo revira-se maior que nossa miudeza, editando confundimentos em nossos olhares, rasurando perceberes, macerando claudicantes certezas, replicando infinitos de incertezas.
dor de incerteza é aguda. finca.
fuso afiado na mó do destino, tecido no tear das parcas, que sem aviso prévio azucrinam seus dedos, e cortam o fio da nossa meada, desenovelando as fibras, embaraçando os fios da vida.
o que me adoece mesmo é esta insuportablIdade -estática diante as multipliCidades dos meus sentires,dúbios-fundos-confusos.
meu cão é sábio, conserva um permanente brilho de alegria no amarelo dos olhos, latidos ternura saltando sobre mim, independente desta persistente fundeza, ele me acolhe sem questionamentos, sem variantes.
como ele, estas delicadas violetas e valentes orquídeas, florando e acontecendo aqui , dentro das normalidades de suas naturezas.
eu que tantas vezes, nem rosno... incontáveis estações nunca desfloro,suplico aprendizados.
eles sorriem e me abraçam entre suas patas e pétalas aquecidamente amorodas. enrosco-me nestas serenidades.
padeço é de ser gente.
quem sabe, um dia, talvez.... com meu cão, com meu jardim.... aprendo.
Querida, Vc. sabe dizer como poucos de nossa feminina condição.
ResponderExcluirBjs,Valentina-SP
Lindo seu Anjo de Patas,E SEU TEXTO IMPECÁVEL.
ResponderExcluirLi, reli, quisera ter escrito.
Angela Barros Fraga-RO